A crise é assunto em toda parte - nas salas de reuniões das empresas, nos botecos, nos salões de beleza, nas agências de propaganda e principalmente na mídia. Mas, afinal, será que ela já desembarcou de fato no país? Quais as conseqüências que ela pode trazer? Para responder a essas dúvidas, a McCann e o Datapopular foram a campo na última semana de outubro para entrevistar mais de 600 habitantes de capitais e cidades do interior das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, todos pertencentes às classes C e D, ou seja, com renda média familiar entre R$ 600 e R$ 3.000. Os resultados, divulgados hoje, mostraram que, apesar de ainda não terem sido afetadas, as pessoas não têm dúvidas de que não sairão ilesas dessa crise.
Para você ter uma idéia do que anda acontecendo, basta dizer que 85% dos brasileiros de baixa renda consideram que sua condição econômica atual vai de regular para boa e que apenas 25% acham que a vida ficou pior nos últimos três meses. Porém, chega a 43% o percentual dos que acreditam que o país piorou de seis meses para cá. Além disso, 76% estão preocupados ou muito preocupados com a crise, 90% pensam que o país será afetado por ela e 88% dizem que a própria família sofrerá de alguma maneira as conseqüências desse problema. O que mais se espera é o aumento do desemprego, redução nos salários e aumento da inflação. Em outras palavras, o que assusta essa gente é a possibilidade de ter que reduzir o consumo e a não conseguir pagar suas contas e dívidas.
O que faz com que as pessoas acreditem que todas essas coisas ruins acontecerão com elas em breve, apesar de haver poucos sinais concretos da crise em suas vidas? É justamente o barulho que se faz em torno do tema, especialmente na mídia, que alimenta com fervor o pessimismo desse pessoal.
Mesmo sem entender direito o que acontece no mundo, 61% dos brasileiros que habitam a base da pirâmide social cogitam pisar no freio e adiar a realização de sonhos de consumo. Os mais preocupados são os que moram no interior, as mulheres e os mais velhos. Entre as medidas que poderão ser adotadas, caso a situação piore de fato, estão a diminuição dos gastos, a redução do grau de endividamento, a busca por mais um emprego e o adiamento de compras planejadas para o ano que vem, especialmente a aquisição de automóveis, eletrodomésticos e eletrônicos, a reforma da casa e a compra de imóveis.
Do ponto de vista das marcas e do varejo, o que esse consumidor popular pode fazer é procurar lojas mais baratas, cortar produtos supérfluos, diminuir a freqüência de compra e trocar as marcas preferidas por similares mais em conta. Os setores que sofreriam menos, se a crise bater na porta das classes C e D, seriam os relacionados com limpeza, saúde, moradia, alimentação e educação. Os maiores cortes seriam em lazer, vestuário, cartões de crédito e celulares. O grande termômetro do pessimismo do consumidor popular brasileiro será este Natal. Nada menos do que 63% dos entrevistados pensam em mudar a forma de presentear. Se eles farão isso realmente ou não é algo que somente saberemos no início do ano que vem.
Concluindo, a pesquisa da McCann mostra que as classes C e D já sabem o que fazer se a crise invadir suas casas sem pedir licença. Desemprego de algum parente ou amigo próximo, aumento da inflação e incapacidade de pagar contas ou dívidas seriam os principais sinais de que é chegada a hora de agir. Elas estão assustadas e preocupadas, não com o presente, mas principalmente com as incertezas do futuro e a possibilidade de perder boa parte do que conquistaram a duras penas nos últimos anos. (Luiz Alberto Marinho, no BlueBus )
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