Daniel Araújo*
Agências mais estruturadas, profissionais especializados e anunciantes dispostos a investir. Eis o cenário atual do mercado publicitário catarinense que, após um necessário período de adequação, começa a atrair de volta o interesse de alguns clientes que haviam migrado para outras regiões, especialmente para o Sudeste. O reflexo desse reposicionamento já pôde ser mensurado, com a análise dos investimentos em anúncios. Em 2010, foi registrado recorde, com R$ 1,022 bilhão de investimentos - crescimento de 13% em comparação a 2009. O número expressivo leva em consideração o faturamento de veiculações em TVs (aberta e fechada), rádio, jornal, revista, mídia exterior e internet. O bolo é ainda mais significativo quando incluída a movimentação das agências de publicidade, empresas gráficas, produtoras de áudio, vídeo e estúdios fotográficos, ficando próximo de R$ 1,3 bilhão.
Essa renovada disposição dos anunciantes em fazerem seus investimentos em comunicação a partir de Santa Catarina deve ser creditada à profissionalização do mercado regional. O amadurecimento das empresas catarinenses vem se consolidando com investimentos em tecnologia de ponta, valorização e capacitação de profissionais. Paralelamente, um fato curioso facilitou o desenvolvimento: na carona da ampla exposição nacional de Santa Catarina - registrada nos últimos anos, por conta da qualidade de vida e das belezas naturais -, uma expressiva quantidade de profissionais qualificados migrou espontaneamente para o Estado. O mercado publicitário soube reconhecer a oportunidade e absorveu esses profissionais, que têm feito uma bela dobradinha com os talentos locais. Todos saíram ganhando.
É interessante verificar o ciclo virtuoso que a profissionalização do mercado vem gerando. Profissionais catarinenses qualificados que, até pouco tempo, preferiam deixar o Estado para buscar oportunidades em mercados maiores, passaram a adiar a viagem, acreditando no crescimento profissional em sua própria terra. A tendência de profissionalização também pode ser analisada pelo envolvimento das agências na negociação dos anúncios. Atualmente, mais de 70% das peças veiculadas em Santa Catarina são negociadas por agências de propaganda. Fica claro que os anunciantes não estão querendo arriscar, ao optar por ações publicitárias planejadas, de alta qualidade técnica e que foquem em resultado.
O aquecimento do mercado publicitário regional também tem se favorecido das dificuldades de exportação, enfrentadas por setores importantes da economia catarinense, como o moveleiro, o têxtil, o calçadista e o cerâmico. Até 2008, os quatro grupos vendiam para o exterior praticamente 80% da produção. Com a crise econômica internacional - iniciada nos Estados Unidos e que posteriormente afetou a Europa -, os setores perceberam a necessidade urgente de posicionar seus produtos no mercado interno, que inversamente passava a viver um momento econômico dos mais favoráveis e promissores. E qual foi a solução encontrada para conquistar o mercado nacional em pouco tempo? Fazer-se presente, ou seja, anunciar. As empresas passaram a divulgar-se com muita força dentro do Brasil - sobretudo em Santa Catarina, onde muitas indústrias desses segmentos estão instaladas.
Outra característica marcante do mercado catarinense é o impacto do turismo na economia estadual e na publicidade. Responsável por 13% do PIB estadual e empregando mais de 600 mil pessoas, o turismo regional aposta numa estratégia agressiva de veiculação na mídia, que vem proporcionando resultados significativos. Para se ter uma ideia, nos últimos quatro anos Santa Catarina foi eleita pela Revista Viagem e Turismo, da Editora Abril, como o melhor destino turístico do Brasil. Claro que a natureza fez muito bem a sua parte, porém, essa percepção popular só se consegue com o apoio de um planejamento de comunicação de qualidade. O momento vivido pela publicidade é dos mais positivos para todo o Brasil, e segue sua trajetória ascendente em total consonância com o vigor econômico que fez surgir uma nova e poderosa classe média. Com a tranqüilidade de quem se empenhou em fazer bem o dever de casa e soube antever tendências e riscos, Santa Catarina agora se prepara para colher os frutos de um bem merecido futuro próspero.
*Daniel Araújo é publicitário, preside a agência D/Araújo, o Sinapro/SC e a ABAP/SC.
Artigo originalmente publicado no Diário Catarinense.
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