Marcello Queiroz, do Propmark, assina hoje importante editoral. Merece reflexão.
"Há muito tempo não se via no Brasil um período de crescimento publicitário e de negócios da comunicação em geral tão cheio de resultados positivos quanto este emblemático 2010, que está fazendo a contagem regressiva para seus dias finais.Jogos na África do Sul, eleições, conquista para sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, economia estável, PIB em alta, entrada de milhões de consumidores no ciclo de consumo e migração de outros milhões deles para as classes D, C e B estão entre os principais fatores que transformaram a mídia brasileira deste ano, em todos os segmentos, em um palco repleto de fortes negócios que chamam a atenção mundial.Já nos dados do primeiro semestre, o Nielsen destacou o mercado brasileiro como o que mais cresceu em publicidade entre 37 países pesquisados, com um aumento em dólar na casa dos 50% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O levantamento mostrou a liderança em grande vantagem do Brasil tanto dentro da região da América Latina quanto diante dos seus pares emergentes como Rússia, Índia ou China.Na semana passada, uma nova pesquisa internacional, desta vez coordenada por uma das empresas do WPP, um dos maiores grupos de comunicação do mundo, apontou a participação brasileira na receita publicitária global com uma evolução que saltou de 1,9% em 2003 para a estimativa de 3,2% neste ano e de 3,3% em 2011. Segundo o estudo, o Brasil poderá ter uma expansão de 9,5% nos negócios publicitários em 2011, enquanto a média de avanço mundial ficaria em 5,8%.Nos balanços extra-oficiais de agências de publicidade, de veículos e de toda a vasta linha de fornecedores, os números de 2010, em sua maioria, são igualmente de significativo crescimento nas contas de um ano que termina marcado pela escolha da primeira mulher para presidente do Brasil, por mais uma vitória nacional em Cannes, com a conquista do Leão de Agência do Ano pela AlmapBBDO, e pelas verdades que o site WikiLeaks espalhou sobre o Itamaraty e a diplomacia internacional.Mas, se de um lado os balanços e os números de crescimento mostram dados positivos, por outro há um grande perigo rondando os negócios da comunicação no Brasil. São ameaças de verão que estão se fortalecendo nesta mudança de ano e de estação e que representam preocupação para boa parte das lideranças de mercado.
Uma delas, interna, é a proposta do governo federal de criar um órgão para controlar o conteúdo das emissoras de rádio e de televisão. Seria a Agência Nacional de Comunicação, ou ANC, uma sigla que pode facilmente representar um retrocesso ímpar na história da recente democracia brasileira, transformando-se em uma Agência Nacional de Censura.A proposta deverá ser levada já no início de 2011 à presidente Dilma Roussef que poderá enviá-la ao Congresso para votação. O governo alega de antemão que não haveria censura no desenvolvimento do projeto, pois a tal ANC iria analisar o conteúdo após a sua veiculação. Mas, para um setor que já é excessivamente controlado, essa nova proposta do governo pode soar, terrível e infelizmente, como uma repugnante ferramenta para tentar cercear a liberdade de expressão, direito legitimamente garantido pela Constituição, mas muitas vezes ferido conforme atestam diversos casos enfrentados pela mídia recentemente, inclusive o do jornal O Estado de S. Paulo, que nesta segunda-feira (13), caso não tenha havido, após a conclusão deste texto, uma definição judicial sobre o processo que o impede de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica, irá estampar o inadmissível selo “sob censura” para um período de exatos 500 dias. Várias entidades do setor de comunicação já criticaram a proposta da ANC. Mas, mais do que críticas, é preciso desde já que seja articulado um movimento coeso e eficaz que tenha um objetivo simples e direto: abortá-la.
Vinda de fora, uma outra ameaça também preocupa: a nova lei da mídia argentina, que restringe a veiculação de filmes publicitários produzidos em outros países e que pode ter os efeitos de uma bomba atômica no setor de produção audiovisual do Brasil. O mercado reivindica uma medida provisória do governo que estabeleça reciprocidade porque, no momento, filmes produzidos na Argentina são facilmente veiculados na mídia brasileira. O setor estima que se a lei da presidente Cristina Kirchner pegar e se não houver um troco do Planalto, cerca de 60% dos filmes com orçamento acima de US$ 100 mil produzidos no Brasil para veiculação em toda a América Latina serão transferidos para produtoras com sede na Argentina.É um rombo que nem este nem os próximos verões vão aguentar."
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