Diante do crescimento econômico e do aumento das exigências, a economia sente a ausência de profissionais capacitados para ocupar tanto os cargos executivos quanto os denominados “juniors”. Na publicidade, o cenário não é diferente: há vagas, mas faltam talentos ou profissionais habilitados a preencher os espaços. “Para cargos altos, você leva bastante tempo para contratar”, afirma Hugo Rodrigues, coo e cco da Publicis Brasil, Salles Chemistri e Publicis Dialog. “A gente está sentindo um apagão de conhecimento”, diz Sérgio Gordilho, presidente da agência Africa. “A área digital é a mais grave. Não é raro que a gente demore 60 ou 90 dias para preencher uma vaga”, completa Abel Reis, presidente da AgênciaClick Isobar.
Os problemas para o cenário atual são muitos e passam por falta de investimentos dos próprios players, na opinião de Gordilho. “As agências acabaram por não se importar com a qualificação, nem formação dos funcionários”. Além disso, nos últimos anos o Brasil conviveu com a exportação de profissionais gabaritados, diminuindo a oferta de mão de obra. A certeza é que a capacitação precisa aumentar a passos largos para acabar com gargalos que só tendem a aumentar. “A gente talvez não tenha se preparado para este montante de vagas que surgiram”, analisa Rodrigues, que completa: “ou saímos desta situação ou vamos continuar pagando muito para poucos”.
Para o executivo da Publicis, o comodismo de outrora marcou o País, onde as pessoas ainda procuram emprego público apenas por segurança e os profissionais fidelizaram cargos. O publicitário vê, na valorização da cultura, da educação e do conhecimento, o caminho para romper com a realidade atual. “Se a gente não rever as bases, pouca coisa vai mudar”, diz, projetando uma geração – 20 anos – para que o cenário mude substancialmente.
De acordo com Reis, da AgênciaClick, que precisou investir na qualificação dos profissionais desde o seu surgimento em um mercado relativamente novo, uma das maiores dificuldades é a atualização profissional. “O que era digital há cinco anos, é muito diferente de hoje. E temos uma estrutura universitária que não acompanha o ritmo dos transformações. A percepção é que a academia se atualiza em ritmo mais lento do que a indústria e, às vezes, mantém conteúdos que não estão sincronizados com a vida real do mercado”, afirma, acrescentando que áreas em que têm mais dificuldades para contratar são atendimento e planejamento. Para postos mais elevados, a agência normalmente procura executivos de off que queiram aprofundar os conhecimentos em online. “A competição por gente talentosa é sangrenta”, pontua.
Como consequência da lei clássica da economia de oferta e demanda, a resolução artificial para o problema é o inflacionamento dos salários, como se constata em vários setores da cadeia publicitária. “Tem uma hora que o salário chega no teto e não tem para onde ir”, lembra Gordilho. E acrescenta: “Ter um profissional só por salário é a pior coisa para uma empresa. Quando tem muita mudança, você não consegue criar uma cultura”.
Para além da tarefa de contratar, as agências precisam desenvolver metodologias para reter profissionais, como explica Reis. “Nós somos showroom em digital e tivemos que criar um programa avançado de recursos humanos, com bonificação, comissionamento, treinamento, formação para diretores e intercâmbio”. A Publicis optou pelo regime de flutuação, em que a liderança de cada projeto fica com a pessoa que melhor pode contribuir e não com quem tem o cargo mais elevado, além de estar em constante observação dos talentos universitários.
Já a Africa, segundo Gordilho, trabalha com promoções para os cargos mais elevados e desenvolve intercâmbios e parcerias para prover conhecimento e atualização dos profissionais. Para os recém-formados, faz o projeto “Safari”, com edições em várias capitais brasileiras e até estrangeiras, com intuito de encontrar talentos. “Recrutamento e treinamento são essenciais”. O executivo destaca que o estilo empregado na agência desde o início privilegiou a criação de uma cultura e identidade. “Temos um projeto diferente do mercado. Criar um cultura de identidade é a maior força que você pode ter para evitar a evasão”. (Marcos Bonfim | propmark)
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