"O maior problema da humanidade não são as mudanças climáticas, mas sim a pobreza de pensamento". Foi assim que Edward de Bono, físico e escritor maltês considerado um dos pais do pensamento sobre criatividade - inventor do "pensamento lateral" - iniciou a apresentação em Cannes. Nada mal para uma plateia composta por criativos de dezenas de países, que buscam nele um pouco da inspiração para ir além do comum nos seus trabalhos diários. Um exemplo simples ajuda a explicar a ideia da apresentação de Bono: em pouco mais de um século, a indústria de aviões saltou de um voo de 700 metros, o máximo que se conseguia no começo do século XX, para uma atualidade em que voar de Cingapura à Londres é uma viagem de 13,5 horas. Ao mesmo tempo, outras indústrias de transporte não evoluíram muito. "Isso mostra que algumas áreas são excelentes e outras não. O que faz a diferença é que elas não pensavam em criar valor".
O mesmo vale para a medicina, onde algumas doenças que levavam anos para serem curadas hoje não sobrevivem a uma semana. Ou seja: criar valor é a grande diferença entre um pensamento tradicional e aquele que rompe barreiras e leva o mundo adiante. O escritor criou uma nova palavra para definir o parâmetro que indica quando alguém não está criando valor. "É Ebne, que significa Excelente, Mas não o Suficiente (ou Excelent, But Not Enough). Suficiente para se criar valor", resume. Esses valores, segundo ele, podem ser representados por valores originais – aqueles nunca vistos – por uma mudança de valores já existente, ou mesmo um valor que chega de fora.
Por falar em categorização, uma de suas teorias mais famosas é a dos seis chapéus, que indica as diferentes maneiras com que o cérebro humano pode tratar uma informação. A primeira é a própria informação, que indica o que temos, o que precisamos e como alcançamos isso. A segunda são as emoções, ou a intuição e o sentimento em relação a alguma situação. Existem também os chapéus da crítica, benefícios e valores, sonhos, criatividade e organização. A boa notícia que Bono trouxe é que já surgem iniciativas para ensinar as pessoas a pensarem de modo a criar valor. Um experimento na China aumentou o rendimento das pessoas em pelo menos 30%. Mas o caminho ainda é longo. "As pessoas conseguem pensar. Elas identificam o que está próximo delas, se é algum veneno, ou um animal perigoso. O pensamento ajuda a encontrar a verdade, ou provar que alguém estava errado. Mas nada é feito na educação para criar valor". (M&M)
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