Essa é a previsão da pesquisa “O Observador Brasil”, da Cetelem BGN, do grupo francês BNP Paribas, conglomerado especializado em crédito consignado e financiamento, que aposta na constância do consumo em 2011, no crescimento da classe C – e consequente diminuição das D e E – e num redesenho da pirâmide social. No ano passado, 19 milhões de pessoas deixaram de engrossar a base da pirâmide e ingressaram na classe C, hoje com 53% da população. Segundo o levantamento, a ascensão a classes sociais mais favorecidas em 2010 se deve a um aumento significativo da renda média do brasileiro verificado no último ano. O principal aumento ocorreu entre as classes D/E, cuja renda familiar média declarada foi de R$ 809,00, um aumento de 48,44% frente a 2005, ano da primeira edição da pesquisa.
A renda disponível (rendimento total menos os gastos) também aumentou. O consumidor da base da pirâmide gastou 15% a mais em 2010 no comparado com o ano anterior, e a previsão é de que ele siga comprando. Segundo a pesquisa, os brasileiros em 2011 estão interessados em bens para casa, móveis, decoração e entretenimento. Dos entrevistados, 40% querem adquirir móveis, 38%, eletrodomésticos, 32%, viagens e 20% afirmaram que certamente vão adquirir eletroeletrônicos e computadores. As classes D/E que tiveram, proporcionalmente, maior crescimento na pretensão de compra, querem comprar telefone celular (28%), carro e moto (9% cada). Já as classes A/B, com maior poder de compra, pretendem investir em decoração (30%), viagens (50%) e propriedades (20%).
Tanto otimismo e vontade em continuar comprando emitem um sinal de alerta para o Banco Central, que tenta esfriar o consumo para manter a inflação dentro da meta de 4,5% para o ano. No dia 3 de dezembro de 2010, a instituição anunciou aumento da taxa básica de juros com o intuito de encarecer o crédito, principalmente para algumas linhas de financiamento, como a de veículos. No início de março, o BC anunciou nova alta, e a Selic passou para 11,75%, a maior desde janeiro de 2009. A elevação, no entanto, não tem sido efetiva para diminuir a circulação de dinheiro no mercado. “Apesar das medidas [do BC], o consumo vem se mantendo, cresceu em janeiro e fevereiro. O impacto ainda não foi sentido”, apontou Miltonliese Carreiro, vice-presidente da Cetelem BGN.
Dados do Serasa Experian, referentes às consultas realizadas pelo varejo à base de dados da organização e que indicam volume de compras, apontam crescimento de 10,1% no primeiro bimestre do ano no comparado com 2010. “Durante janeiro, os juros ficaram mais caros para algumas linhas de crédito, mas o consumidor não está reagindo a esse movimento”, argumentou Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado do Serasa. “Isso mostra a necessidade de medidas adicionais para recolocar a inflação dentro da meta”.
O risco é que a inadimplência cresça e, consequentemente, o endividamento aumente. Em fevereiro, o número de cheques sem fundos cresceu 0,13%, um volume de 1,49 milhão de documentos protestados, segundo dados do Serasa. “Por enquanto, não há sinal de explosão na inadimplência. O risco seria se continuássemos com o mesmo crescimento na oferta de crédito de 2010”, afirmou Rabi. No próximo mês, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC se reúne novamente, e a previsão é de que a instituição adote novas medidas macroprudenciais para encarecer ainda mais o crédito.
Para a Cetelem BGN, no entanto, as medidas complementares anunciadas não alteram seus negócios. Oferecer produtos para uma nova classe social com crescimento explosivo e grande pretensão de compra é o foco da empresa em 2011. “O crédito ficou mais caro, mas empréstimos têm taxas de juro mais competitivas, o que minimiza o encarecimento ocorrido”, declarou Carreiro, otimista: “Trabalhamos com expectativa de consumo constante, sem oscilação”. (Keila Guimarães | Propmark)
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